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Crítica: Duna Parte Dois
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Críticas

Crítica: Duna: Parte Dois

Longa de Denis Villeneuve é excepcional e desafia as convenções dos blockbusters tradicionais. Destacando-se pela temática profunda e qualidade técnica excepcional, elevando o padrão da indústria do entretenimento.

Blockbusters hollywoodianos frequentemente nos entregam mais do mesmo. Seja no macro ou no micro, ao longo dos últimos 10 anos, é comum sair do cinema com a sensação de ter assistido a uma estrutura narrativa reciclada, moldada com elementos que tentam disfarçar a falta de criatividade e originalidade. No entanto, o primeiro filme de Duna foi uma exceção notável. Sob a direção de Denis Villeneuve, o filme nos presenteou com a novidade de um cineasta seguro, que compreendeu profundamente seu material base e optou por criar uma obra cinematográfica completamente contemplativa, para um universo que, assim como O Senhor dos Anéis, era considerado impossível de ser adaptado.

Duna – 2021

Agora, com Duna: Parte Dois, Villeneuve vai além, não apenas desafiando as expectativas, mas também deixando sua marca na história do cinema. O novo filme da saga de Paul Atreides (interpretado por Timothée Chalamet) rompe com as previsões daqueles que talvez não tenham se conectado plenamente com a primeira parte, indo diretamente ao cerne da questão. Villeneuve não apenas resgata elementos do estilo narrativo adotado anteriormente, mas também satisfaz os desejos mais profundos do público, oferecendo cenas grandiosas de ação e um texto envolvente que entrelaça política, religião e fé.

Numa indústria onde o público muitas vezes prefere ignorar temas sensíveis da sociedade, o diretor utiliza o blockbuster como plataforma para explorar questões profundas. Ele nos mostra, de forma contundente, como a política é permeada de sangue, a fé é sustentada pelo desamparo e a religião é frequentemente construída sobre mentiras. Esses temas poderosos, que em mãos menos habilidosas seriam apenas pincelados superficialmente, aqui são a base sólida que sustenta toda a trama, do início ao fim.

Duna: Parte Dois – 2024

Não há julgamento de valores para aqueles que discordam ou concordam com os temas abordados no filme. Villeneuve não utiliza a ideologia de um ou outro público como base para essa discussão. Em vez disso, ele oferece ao espectador a oportunidade de compreender a complexidade desses temas e de acompanhar a jornada dos personagens como um reflexo fantástico, porém vívido, da história humana. Em Duna: Parte Dois, não há protagonistas perfeitos, nem vilões absolutos. Tudo é subjetivo, permitindo-nos contemplar a verdadeira natureza humana. Isso é particularmente corajoso em uma era em que o público muitas vezes prefere acreditar que política, religião, fé e sexualidade não se misturam com filmes ou com a cultura pop. Villeneuve desafia essa noção, provando-nos que o cinema, assim como a sociedade, é um espelho que reflete as complexidades e contradições da condição humana. Isso pode não ser novidade para você, mas para muitas pessoas sim.

Além dos temas incríveis, Duna 2 também dá um show de técnicas visuais, seja pela excelente fotografia de Greig Fraser que cria um universo amplo e gigantesco e utiliza das lentes de câmeras IMAX uma oportunidade para transformar o deserto de Arrakis em um ambiente ainda mais opressor do que no primeiro filme. A noção de espaço se perde aos olhos quando a imensidão de areia se expande em cada detalhe de tela, criando um ambiente único e que ao mesmo tempo é utilizado de base para explorarmos a narrativa do povo local, que, diferente da primeira parte do longa, é completamente bem desenvolvido nesse. Já a trilha sonora do alemão Hans Zimmer, que havia sido destaque no primeiro longa, soa como um aprimoramento ainda maior da mesma. O compositor utiliza um pouco de Vangelis para criar essa que talvez fique marcada como uma das maiores trilhas sonoras da fantasia e ficção científica dos últimos anos e que com certeza vai ficar marcada não só no coração e ouvido dos fãs, como na história da indústria. É quase certo afirmar que em 2025, o novo Duna será líder de indicações nas premiações de Hollywood.

Duna: Parte Dois – 2024

O grande chamativo para o público é seu elenco estelar, que também se encontra quase perfeito. Timothée Chalamet, que sempre nos entregou ótimas atuações, encontra-se no melhor papel de sua carreira aqui. Para aqueles que conhecem o material base, seria difícil imaginar o doce ator que recentemente deu vida a Willy Wonka interpretando um personagem mais forte, maduro e com tons de liderança contundentes na trama. Mas Chalamet não só mostra sua versatilidade aqui, como nos apresenta um potencial de atuação que nunca vimos o mesmo desempenhar nas telas até então. Zendaya, que no primeiro longa era apenas uma promessa, se mostra não só uma excelente atriz no drama como já conhecemos, mas também uma excepcional atriz de ação que inspira e se firma no longa como a personagem mais forte emocionalmente. Ela é a sensação de ferocidade viva em seu olhar e a doçura de sua fala que nos conecta ainda mais com Chani.

Porém, o grande destaque é Austin Butler, que viveu Elvis Presley no longa de Baz Luhrmann. Aqui, o ator vive o perigoso Feyd-Rautha, que originalmente foi vivido pelo icônico Sting na adaptação de 1984 dirigida por David Lynch. A nova versão do personagem de Butler é quase como uma reimaginação do personagem escrito por Frank Herbert na obra original. Esse talvez tenha sido o personagem com maior liberdade criativa da parte do diretor, desde o visual à sua personalidade. É inegável dizer que o trabalho de Villeneuve e Butler não tenha obtido uma excelente junção. Feyd é um psicopata sangue frio assustador e impiedoso da primeira à última cena, se tornando não só um excelente rival para Paul, como também um dos vilões mais icônicos e assustadores do cinema.

Duna: Parte Dois – 2024

Javier Bardem e Dave Bautista sofrem no longa, enquanto Bardem soa muito mais como um personagem cômico em um mundo onde a comédia não se encaixa tão bem, seu personagem cativa, mas destoa de todo o resto. Já Bautista quase não tem com o que se trabalhar na trama, dando a impressão que seu personagem deveria ter ficado apenas na primeira parte do longa, já que o mesmo não faz diferença nenhuma no novo longa.

Com essa junção de elementos, Duna Parte Dois se torna não só o grande filme do ano, como um dos maiores épicos de todos os tempos. Desde o escopo da ação, a excelente trilha sonora, até as grandes atuações e temas de seu roteiro, o longa consegue criar um clássico moderno e instantâneo. Aqui, o cinema respira, e faz toda a diferença contemplar uma obra gigantesca na maior sala possível, com o melhor som possível. Se você não sabe o que as pessoas sentiram ao assistir Star Wars pela primeira vez em 1977, talvez essa seja sua única chance de sentir o mesmo nos dias atuais, onde cada vez mais a indústria se torna um padrão de decepções e colagens. Com isso, só nos resta torcer para que Duna seja o exemplo e padrão das próximas produções da indústria. Antes uma cópia mal feita de um filme impecável, do que diversas reproduções de um estilo que já está fazendo hora extra nas telonas.

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